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Correios planejam desligar ao menos 10 mil funcionários em novo PDV para viabilizar reestruturação da estatal.

Demissão voluntária deve ocorrer em duas etapas e integra pacote usado para convencer bancos a liberarem empréstimo de R$ 20 bilhões.

Os Correios pretendem desligar pelo menos 10 mil funcionários por meio de um novo Programa de Demissão Voluntária (PDV). A medida integra o plano de reestruturação usado como garantia para a obtenção de um empréstimo de R$ 20 bilhões, considerado essencial para evitar o agravamento da crise financeira da estatal.

O ajuste é visto pelos bancos como condição para liberar o crédito, que terá garantia do Tesouro Nacional. Com o aval soberano, o risco da operação diminui, já que a União assume o pagamento em caso de inadimplência.

Meta mínima é desligar 10 mil empregados

Segundo fontes envolvidas nas negociações, a meta exata ainda está sendo definida, mas 10 mil desligamentos são considerados o patamar mínimo. Hoje, os Correios possuem cerca de 85 mil empregados, e os gastos com pessoal representam 72% de todos os custos da empresa.

O PDV será lançado em duas etapas. Na primeira, serão aplicadas regras tradicionais, baseadas em critérios de idade e tempo de serviço. A segunda etapa deve trazer metas específicas por área, conforme estudo que mede a produtividade de agências e setores.

Os Correios mantêm aproximadamente 10 mil unidades de atendimento, sendo 7 mil próprias ou franqueadas. Entretanto, apenas 15% delas operam no azul. Por isso, a empresa pretende mapear regiões com agências sobrepostas, unificando operações e direcionando funcionários dessas unidades ao PDV ou ao remanejamento interno.

A situação financeira da estatal é considerada crítica. Os Correios acumulam prejuízos desde 2022 e devem encerrar 2025 com um rombo de R$ 10 bilhões. Sem recursos novos, projeções avaliadas pela empresa indicam que o déficit pode atingir R$ 20 bilhões em 2026 e chegar a R$ 70 bilhões em cinco anos, empurrado por multas contratuais e atrasos em pagamentos.

Um dos desafios é criar incentivos que tornem o PDV atrativo, mas sem comprometer ainda mais as finanças. Em 2024, apenas 3.705 funcionários aderiram ao programa.

Entre os pontos de resistência estão:

  • receio de depender apenas do Postalis, fundo de pensão que enfrenta dificuldades e aplica descontos extras aos aposentados;
  • temor de perder o plano de saúde, ainda visto como um benefício importante, apesar da precarização causada por atrasos de repasses.

A estatal pretende negociar com os sindicatos para conseguir maior adesão nesta nova rodada.

Plano prevê venda de imóveis, mudanças no plano de saúde e revisão de cargos

Além do PDV, o plano de reestruturação inclui:

  • venda de imóveis,
  • reformulação do plano de saúde,
  • reestruturação de cargos e salários,
  • flexibilização da jornada para permitir entregas em fins de semana,
  • cobrança por resultados dos superintendentes,
  • estudo para futura implementação de remuneração variável.

TCU e CGU já acompanham o processo e devem intensificar a fiscalização.

Negociação do empréstimo continua após bancos cobrarem juros acima do teto

Na primeira rodada, um grupo de bancos (Banco do Brasil, BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil) aceitou conceder o empréstimo, mas propôs juros de 136% do CDI, acima do limite permitido pelo Tesouro, que é de 120% do CDI.

Como a diferença representaria um gasto adicional de centenas de milhões ao longo dos anos, a estatal decidiu reabrir as negociações para tentar reduzir o custo.

As instituições financeiras têm duas semanas para apresentar novas propostas, e a expectativa é que o empréstimo seja contratado ainda este ano.

Por Ana Almeida / 14/11/2025 às 08:45

Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

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