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“Tem sido muito triste”, diz jovem 15 dias após ser vítima de agressão homofóbica

André Silva está sem ir a escola desde que foi agredido em ônibus a caminho da escola.

Acordar, postar nas redes sociais uma brincadeira com uma amiga, e pegar o ônibus para a escola. O que poderia parecer rotina comum para qualquer adolescente acabou se transformando em pesadelo para André Silva, de 15 anos, que foi agredido fisicamente por colegas há exatos quinze dias. Para o jovem de Camaçari, os murros e pontapés que sofreu no ônibus a caminho da escola foram o início de um pesadelo que parece ainda não ter terminado. 

André está sem estudar há mais de uma semana, sem poder frequentar as aulas foi afastado do Colégio Estadual José de Freitas Mascarenhas e viu ir embora o desejo de ser, inclusive, representante de sala. “Sinto uma pressão muito grande, tem sido muito triste, muito difícil para mim não poder estudar, ficar preso em casa “. disse o jovem ao Metro1. 

É certo que agressões como as sofridas por André deixam marcas mais profundas do que as que podem ser vistas no corpo. Quem trabalha diretamente com os adolescentes explica que esta é uma fase da vida marcada pela construção da identidade que o jovem levará para a vida adulta e que o preconceito – e as agressões, físicas ou não, representam um prejuízo claro à saúde psíquica do adolescente. “A homofobia vem de diversas formas, desde a agressão virtual, nas redes sociais, o bullying, até chegar às agressões físicas. Quando chegam as agressões físicas é porque antes esse jovem já sofreu toda uma carga de outras agressões que são prejudiciais para sua formação’, opina a psicóloga Fernada Prado. 

A profissional explica que, por muitas vezes, a violência vem “dos pares”, ou seja, dos amigos e colegas e que, para na adolescência, a aceitação no grupo de amigos tem um peso grande, o que pode tornar ainda mais difícil a vivência das agressões. “O jovem está construindo sua identidade, e naturalmente busca um lugar de aceitação. Quando não encontra esse lugar o adolescente acaba se questionando sobre o seu valor. É uma fase da vida em que a aceitação do outro é muito importante para a própria estima do adolescente”, diz. 

Especialista em Psicologia Sexual, a psicóloga Naíra Bonfim explica que os episódios de violência podem acabar gerando questões mais sérias de saúde. “Muitas vezes essas agressões acabam desencadeando quadros de ansiedade generalizada, estresse, depressão, até chegar em ideações suicidas. Por isso a importância de estar atento, e de oferecer acolhimento a quem sofre violência por conta de sua identidade de genero ou orientação sexual”, detalha. 

Rede de apoio

Os profissionais explicam que, para o adolescente, encontrar esses espaço de aceitação não é tarefa fácil e que a ajuda pode vir de ambientes diferentes. “É importante criar uma rede de apoio, seja na família, com amigos, que o jovem construa outras referências para que possa chegar em um espaço de aceitação. 

Quando episódios como de Camaçari viram realidade na vida de um adolescente,  é preciso contar com a chamada rede de apoio: seja ele o apoio familiar, de amigos, ou de outras referências que aquela pessoa tenha para chegar a um espaço de aceitação”, diz Fernanda, que completa que, nesta fase da vida, para auxiliar os adolescentes na construção de um espaço seguro é preciso investir, também, em políticas públicas. “Temos uma sociedade que já evoluiu na aceitação das diferenças, seja elas quais forem, mas é preciso avançar ainda mais. Em ambientes como a escola, em outros espaços de convívio dos jovens, as políticas de inclusão são fundamentais. Para que, desde cedo, se entenda a diferença como algo normal e positivo entre nós”, afirma a psicóloga.  

Para além do apoio de quem está próximo, os profissionais defendem a importância de buscar ajuda profissional. “São passos que podem acontecer de forma simultânea. Existem aspectos que o acolhimento familiar ou de amigos não vai dar conta, assim como uma ajuda profissional não resolve absolutamente tudo. Então é preciso buscar as duas coisas”, acredita Naira. No caso do acolhimento familiar, e dos amigos, a psicóloga destaca a importância da busca por informações. “Muitas vezes o adolescente fala sobre sua orientação e encontra na família a reprodução de determinados preconceitos, até por vezes tentativas de reversão, que são muito violentas. Então é importante buscar informações. Buscar conhecimento”, diz a profissional. 

A falta de apoio por parte da instituição de ensino  é justamente o que tem tornado mais difícil a rotina de André. Mara Silva, 50 anos, mãe do jovem, conta que o dia a dia do filho tem sido de medo, e se revolta com a falta de perspectivas para solucionar a questão. “Estamos presos em casa, fomos ameaçados diversas vezes, moramos próximos aos agressores e agora é meu filho que não está podendo estudar. Deviam ser eles. A escola não faz nada, diz que o caso não tem relação com a escola”, lamenta. 

Metro1 procurou a Secretaria de Educação da Bahia que não respondeu aos questionamentos até a publicação desta matéria. 

“Criei meu filho tão perto de mim. E quando ele fez quinze anos começou a sair mais sozinho. Só com 15 anos ia pra aula naquele ônibus. É muito triste tudo isso que está acontecendo. A vida dele tem sido um inferno”, diz a mãe. “Eu só queria poder estudar. pensar no meu futuro”, deseja André.  

Fonte: Metro 1

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